Confira o artigo do CEO da Cognatis, Reinaldo Gregori, publicado na Meio & Mensagem.
Por Reinaldo Gregori
Em meio a tanta incerteza com relação à crise econômica atual, há pelo menos uma certeza: esta crise, como qualquer outra, irá acabar um dia. O problema, naturalmente, é que não sabemos nem quando, nem em que circunstâncias isso acontecerá. Sabemos apenas que, como já foi demonstrado tantas vezes pela ciência econômica, no capitalismo a evolução macroeconômica se dá inevitavelmente por meio de ciclos. E, certamente, ainda que às vezes tenhamos esta impressão, não estamos subvertendo as leis da natureza aqui no Brasil.
Saber simplesmente que a crise não é eterna, não sabendo quanto tempo irá durar ou como irá evoluir, pode parecer pouco confortante. Mas não deveria ser. As empresas, tanto quanto as pessoas, costumam reagir em momentos como o atual com excessivo conservadorismo. Nossa tendência é por priorizar as ações táticas (de curto prazo) e abandonar a visão estratégica e o planejamento. E neste processo, muitas vezes tomamos decisões equivocadas, que afetarão não apenas como atravessaremos esta crise, mas principalmente, como sairemos dela. Crises são desorganizadoras, e por isso mesmo apresentam tantas oportunidades. Lembrar de suas finitudes é fundamental para colocar as coisas em perspectiva e se colocar aberto para estas oportunidades, quando surgirem.
Mas qual seria então o segredo para a boa convivência (e sobrevivência) durante esta fase indeterminada de saltos e sobressaltos do dia a dia da crise econômica? Bom, ainda que obviamente não exista uma única receita mágica para todas as empresas, é útil focar naquilo que, realmente, machuca a maioria das organizações em momentos como este: a incerteza! Tome por exemplo o tema central da recessão, que é a perspectiva de queda no nível de produção para os próximos anos. O PIB em 2015 deverá diminuir alguns pontos percentuais, e, na melhor das hipóteses, andar de lado em 2016. Ou seja, estamos em recessão, e não crescer, ou pior, decrescer alguns pontos percentuais é inquestionavelmente ruim. Mas é tão ruim assim como parece? Afinal, quando uma economia que não cresce em um período, ou mesmo decresce um ou dois pontos percentuais, não está basicamente repetindo o resultado o desempenho do ano anterior? Isso não significa que, em tese ao menos, a maioria de nós poderá obter um resultado igual ou parecido com o anterior, o que pode não ser tão ruim assim? Ocorre, entretanto, que a perspectiva do não crescimento nos torna excessivamente pessimistas e desconfiados, e muitos economistas acreditam que isso acontece porque não estamos equipados corretamente para lidar com as incertezas que a crise traz. E, ao reagir exageradamente, ajudamos a realizar a profecia.
Portanto, uma boa estratégia para atravessar a crise com a menor dor possível seria investir (isso mesmo, investir!) em “inteligência”. Inteligência, afinal, é nossa melhor arma para lidar com incertezas, e agora mais que nunca, dependeremos dela. Isso não significa, é claro, que as empresas não devem fazer a lição de casa que todos conhecem, e buscar “enxugar a máquina” melhorando sua eficiência e produtividade. Mas idealmente, esta otimização deverá ser feita com base no máximo de informações sobre seu mercado, sua real dimensão, dinâmica e perspectiva. E sobre os demais temas que oneram desnecessariamente sua operação. Somente com informação de qualidade será possível dosar o nível de conservadorismo a fim de não expor a empresa desnecessariamente aos riscos ambientais, e ao mesmo tempo evitar retroceder exageradamente ou perder aquelas oportunidades que certamente surgirão.
A boa notícia é que as empresas contam hoje com inúmeras formas para fazer isso. Quando buscam apoio problemas pontuais e específicos, podem procurar uma empresa de consultoria especializada no tema em questão. Por outro lado, quando entendem que a geração de inteligência, tática e/ou estratégica, deve se tornar um processo recorrente, podem optar por contratar sistemas in cloud que entregam resultados com baixo investimento inicial. Os avanços recentes nos sistemas de BI do tipo SaaS (Software As A Service) abriram novos caminhos para o acesso à inteligência por todo tipo de empresa. Em alguns casos, executivos podem utilizar estas soluções para diminuir sua dependência das consultorias e aos especialistas em inteligência de mercado.
É importante, porém, lembrar que há riscos nesta conduta. Muitos podem se iludir acreditando que seja possível automatizar completamente o processo de geração de inteligência. Não acredito que isso seja possível. Insights reveladores e significativos só aparecem após muito suor e foco, e não com o apertar de poucos botões. Por isso, mais e mais empresas vêm procurando adotar uma estratégia híbrida, combinando a contratação de serviços de consultoria com bases de informações ou sistemas de análise. E apesar de parecer um contrassenso aumentar o headcount em tempos pontiagudos, até mesmo esta opção não deve ser negligenciada totalmente. Em tempos de queda no nível de emprego podem surgir grandes oportunidades de contratação no mercado de trabalho. Não custa ficar de olho!