Diversas manifestações foram realizadas por mulheres desde o final do século XIX e que pretendiam inicialmente chamar a atenção para a desumana jornada de trabalho, que chegava até a 15 horas diárias, além de outros temas que as afligiam.
No ano de 1910, Clara Zetkin, uma ativista defensora dos direitos da mulher, sugeriu a criação de uma data internacional durante a Conferência Internacional de Mulheres Socialistas em Copenhague.
No dia 08 de março de 1917, no decorrer da Primeira Grande Guerra, em meio a diversos outros protestos pelo mundo, 90 mil operárias russas saíram às ruas contra as péssimas condições de trabalho, contra a fome e contra a participação do país na guerra. Este levante acabou conhecido como “Pão e Paz”.
Em 1945, a Organização das Nações Unidas – ONU, assinou o primeiro acordo internacional para a igualdade de gêneros e apenas em 1975, começou a comemorar o dia 08 de março como o Dia Internacional da Mulher.
Isso é apenas para apresentar um dos motivadores para que este artigo fosse escrito. Na realidade, mais do que relembrar a data, o que se pretende é mostrar a evolução do papel da mulher no ambiente de trabalho.
Antes de qualquer coisa é fundamental indicar que, segundo o IBGE, em 2022 o sexo feminino corresponde a 51,1% da população brasileira e de acordo com as projeções, esta participação tende a se manter estável, chegando a 53,3% no ano de 2060. Vale dizer que o predomínio populacional feminino é irreversível. Esta superação se consolidou no início dos anos 2000.
A mulher chefiando domicílios
A primeira grande constatação da presença da mulher na força de trabalho é que em 2012, 35,7% dos domicílios brasileiros eram chefiados por mulheres. Em 2021 este indicador passou para 48,9%. No mesmo período não se verificaram grandes alterações na quantidade de domicílios chefiados por mulheres em cada região brasileira, conforme se verifica na Tabela 1. O Sudeste segue sendo a região com maior participação feminina na chefia domiciliar com 43,8% do total de domicílios, enquanto a região Norte segue como sendo a de menor participação, com 7,2%
Tabela 1
Fonte: GEOPop® com base em dados do IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, 2012-2019.
Gráfico 1
Fonte: GEOPop® com base em dados do IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, 2012-2019.
Segundo dados da PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar do IBGE, considerando-se todas as pessoas que trabalham com idade acima de 14 anos, não incluindo trabalhadores domésticos e empregados do setor público, a força de trabalho feminina responde por 51,7% do total, índice este compatível com a participação da mulher na população.
A mulher diversificando áreas de atuação
Ainda segundo a PNAD, a força de trabalho feminina também observou entre 2012 e 2019 uma mudança no perfil dos locais de trabalho. Houve aumento de cerca de 30% no total de mulheres que trabalhavam no domicílio neste período, passando de 7,5% do total de trabalhadoras para 10,6%. Por outro lado, verifica-se um decréscimo no total de mulheres que trabalham em sítios, granjas, chácaras e afins, que passou de 8,1% do total da força de trabalho feminina para 5,5%.
Tabela 2
Fonte: GEOPop® com base em dados do IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, 2012-2019.
As áreas de atuação da mulher e do homem ao longo do tempo podem ser visualizadas na Tabela 3 abaixo, extraídas da base de dados GEOpop® da Cognatis®.
Tabela 3
Fonte: GEOPop® com base em dados do IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, 2012-2021.
É interessante notar que as mulheres trabalham em sua maioria na administração pública, educação, saúde e serviços sociais. Na sequência, comércio e reparação, serviços domésticos e indústria. É ainda pequena a participação feminina nas áreas de transporte, armazenagem e logística, além da construção civil.
Entre 2012 e 2021, o setor Agro mostra uma redução na participação feminina da ordem de 19%, a indústria uma redução de 14% e os serviços domésticos de 16%. Para o homem, esta redução foi um pouco menor e igual a 12%.
Por outro lado, a Administração Pública, Educação, Saúde e Serviços Sociais apresentaram crescimento de cerca de 13% e os serviços de Informação, Financeira e outras atividades profissionais de 12%. No mesmo período, a participação masculina caiu 15,4%.
Todos estes aspectos acabam corroborando a imagem de que a força de trabalho feminina no Brasil é crescente e começa a definir algumas questões, tais como a mulher com maior fatia na população brasileira e com maior presença da chefia de domicílios, o que pode impactar diretamente nas tomadas de decisão em relação a consumo de produtos e serviços pela família.
Além destes aspectos, é possível identificar que a mulher também vai caminhando no sentido de assumir papel de maior destaque na liderança empresarial.
A consultoria Egon Zehnder divulgou no final de 2022 uma pesquisa Global focada nos aspectos de Diversidade & Inclusão nos Conselhos de grandes empresas.
Segundo a empresa, existem no Brasil 1.093 assentos em conselhos de grandes empresas, cujo valor de mercado é superior a € 8 bilhões. Destes assentos, 18,2% apenas são ocupados por mulheres. A título de comparação, na América Latina este percentual é inferior, 14,5%, e no mundo é de 26,9%. Analisando outras edições da pesquisa é possível verificar que o Brasil está caminhando na mesma velocidade de outros países no que diz respeito à maior participação de mulheres nos assentos de conselhos de administração, porém ainda precisa ampliar esta participação.
Ainda segundo a pesquisa, no país foram analisadas 128 grandes empresas e dentre estas, 77% possuem ao menos uma executiva no colegiado, enquanto 40% mostram ao menos duas e 13% possuem 3. A título comparativo, globalmente, 93% das empresas apresentam ao menos uma mulher no Conselho e na América Latina, 72%.
Um dado paralelo da pesquisa aponta que dentre as 128 empresas avaliadas, existem apenas 13 CFO´s e 5 CEO´s mulheres. Isso ainda denota a oportunidade de crescimento nos cargos de comando de grandes organizações.
Defasagem de Renda
A legislação Brasileira prevê desde a promulgação da CLT em 1943 a igualdade salarial entre homens e mulheres, algo que, sabidamente, não vem sendo observado. Segundo o IBGE, a disparidade salarial entre homens e mulheres, considerando a renda média de cada gênero para todas as atividades, vem caindo ao longo dos últimos anos, porém ainda persiste, conforme se pode observar no Gráfico 3, extraído da GEOpop® com base em dados da PNAD do IBGE.
Gráfico 2
Fonte: GEOPop® com base em dados do IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, 2012-2022.
Estudo promovido pela OIT – Organização Internacional do Trabalho em 2019, mostra que o gap, ou seja, a diferença entre os salários pagos a homens e os salários pagos a mulheres não é uma exclusividade brasileira. Infelizmente, não existe uma leitura global pós-Pandemia, mas estes dados apresentados no Gráfico 3 nos trazem uma visão interessante, porém preocupante desta diferença.
Gráfico3
Fonte: Global Wage Report 2018-2019. Organização Internacional do Trabalho – OIT
Mesmo em países desenvolvidos na América do Norte e Europa Central e Ocidental, existem defasagens, muito embora menores. O estudo considerou a renda média para cada gênero, considerando todas as atividades.
Sob a ótica do perfil de renda, o mesmo estudo também mostra diferenças e apontam que nos países de mais baixa renda, a defasagem é menor do que nos demais países.
Gráfico 4
Fonte: Global Wage Report 2018-2019. Organização Internacional do Trabalho – OIT
Ao se avaliar estas informações, o que se depreende com maior intensidade é que a força de trabalho feminina é crescente, que as defasagens salariais com os homens tendem a diminuir com tempo, que a mulher diversifica cada vez mais suas atividades e que esta assume mais e mais relevância junto à condução financeira da família.
Todos estes fatores reforçam a necessidade de se conhecer profundamente o perfil dos mercados onde se pretende atuar, assim como o que se projeta para o futuro. A Cognatis com a sua expertise na cadeia de consumo, construída ao longo de seus quase 20 anos de existência, bem como com sua enorme base de dados pode, sem dúvida, contribuir para que a sua empresa tome as melhores decisões. Conhecer detalhadamente os perfis e tendências populacionais pode ser determinante no sucesso e na perenidade de um negócio.
A força e os impactos no perfil de consumo das famílias trazidos pela atuação da mulher no mercado de trabalho seguirão firmes e sem nenhuma perspectiva de arrefecimento daqui para a frente, o que nos obriga a considerar estes aspectos cada vez com mais importância no desenho de estratégias para os negócios.