O gás nosso de cada dia

A Indústria de Gás Para Uso Domiciliar no Brasil

O nascimento da indústria de gás para uso domiciliar 

Muito se discute sobre as questões relativas à infraestrutura no Brasil e, dentre estas, aquelas que são usualmente denominadas utilities, um termo trazido do idioma inglês, mas que se refere às empresas prestadoras de serviços públicos essenciais para a sociedade, especialmente no ramo de energia elétrica, gás, água e, mais recentemente, internet. Estas empresas, em geral, atendem outros segmentos além do domiciliar, tais como indústrias e prestadores de serviços. 

De forma bastante genérica, pode-se dizer que estes serviços, que podem receber diferentes nomes, possuem sempre um estágio de produção, outro de distribuição e mais um de comercialização. Nesta cadeia podem existir elos que são de atribuição de empresas públicas e outros de empresas privadas. Isso vem mudando com o tempo e baseado na evolução da tecnologia e das regras de negócios, a presença do setor privado vem crescendo bastante ao longo do tempo. 

O propósito específico deste breve artigo é focar no gás e, mais especificamente, no abastecimento domiciliar. Existem dois tipos de produtos que mais abastecem os domicílios ao redor do mundo: o gás natural e o GLP. O Gás Natural é disponibilizado por uma rede canalizada e o usuário recebe mensalmente uma conta de consumo. Por outro lado, o Gás Liquefeito de Petróleo – GLP, é comercializado em cilindros ou através do abastecimento por caminhões de um recipiente fixo no local, que pode ser chamado de estacionário.  

Existem algumas diferenças importantes entre os dois tipos de gás, tais como: 

  • O GLP, armazenado em botijões, chega às regiões mais remotas. Não precisa de rede específica, o que implica em custos extras com obras em locais que não contam com rede encanada; 
  • O GLP tem maior poder calorífico, ou seja, sua produtividade é maior e é possível fazer mais usando menos GLP; 
  • O gás natural possui metano em sua composição, que é um dos gases componentes geradores do Efeito Estufa. O GLP, por sua vez, não traz em sua composição nenhum dos gases que impactem negativamente o meio ambiente. 

No caso do Brasil, o gás dominante para o abastecimento de domicílios é o GLP – Gás Liquefeito de Petróleo, um produto descoberto nos EUA no início do século XX e que inicialmente se prestava a abastecer maçaricos de corte de metal e que apenas na década de 30 se fortalece como aquecimento para a cozinha. Em 1932, a alimentação e o aquecimento dos Jogos Olímpicos em Los Angeles foram feitos com uso de GLP. No Brasil, em 1939, Ernesto Igel resolveu promover o GLP como excelente combustível para cozinhar e assim nasceu a Ultragaz, com 3 caminhões e 166 clientes. Em 1950 este número havia saltado para 70 mil clientes, com um crescimento expressivo e significativo. 

 

Produção e Distribuição de GLP 

No que diz respeito à armazenagem do GLP, normalmente, esta é feita em recipientes de aço de variadas capacidades volumétricas e formatos, sendo o mais comum para uso domiciliar uni residencial o botijão de 13 quilos, denominado P13, muito embora em alguns condomínios residenciais seja crescente a utilização compartilhada de botijões de maior volume. A venda a granel do GLP, ou seja, no abastecimento de reservatórios estacionários destina-se à utilização pela indústria. 

Segundo dados da ANP – Agência Nacional de Petróleo – em setembro de 2023 existem no país, 18 grandes grupos de empresas distribuidoras de GLP, sendo que destas: 10 vendem botijões 13P e de outros tamanhos e 8 não vendem 13P e se dedicam a comercializar apenas outros tamanhos maiores ou menores. Em 2023, de janeiro a setembro, foram vendidas        3,8 milhões de toneladas de gás acondicionado em P13 e 1,8 milhões de toneladas em outros tamanhos. 

O market share das distribuidoras no Brasil em outubro de 2023 está representado no Gráfico 1 abaixo. 

Market Share distribuidora de gás

Gráfico 1: Fonte: Sindigas – Out/2023 

 

A participação das vendas de botijão de 13 Kg nas regiões brasileiras, versus a distribuição dos domicílios, também pelas regiões está apresentada no Gráfico 2. 

A participação das vendas de botijão de 13 Kg nas regiões brasileiras, versus a distribuição dos domicílios

Gráfico 2: Fonte Sindigas outubro 2023 e Censo IBGE 2022 

 

Pode-se verificar que quando a distribuição de domicílios é maior do que a distribuição das vendas de P13 significa que outras fontes de energia, especialmente para cozinhar são utilizadas, tais como gás natural encanado, eletricidade ou até mesmo lenha. 

 

Produção e distribuição Gás Natural 

A exploração e a produção do gás natural podem ocorrer em campos marítimos ou terrestres, estando o gás armazenado em reservatórios. Quando o gás é encontrado junto com o petróleo é chamado gás associado, quando em campos onde há apenas o gás, é chamado de não-associado. 

A principal diferença entre o gás associado e o não associado está ligada às condições em que ele se encontra no reservatório. No associado, o gás natural está dissolvido no petróleo ou se apresenta como uma “capa” de gás. O gás natural extraído desses campos precisa ser separado do óleo, durante a extração. Já nos campos de gás natural não-associado não há presença de petróleo. 

No Brasil, segundo dados do Ministério de Minas e Energia, em seu Boletim da Produção de Petróleo e Gás Natural, em outubro de 2023 foram produzidos 152,2 milhões de metros cúbicos por dia com um aproveitamento de 97,6%. Deste total, 86,2% foram provenientes de campos marítimos, sendo o maior contribuinte o Campo Tupi na Bacia de Santos.  

A distribuição da produção do Gás Natural dentre as principais bacias está representada no gráfico 3. 

A distribuição da produção do Gás Natural dentre as principais bacias

Gráfico 3: Fonte ANP – Agência Nacional de Petróleo, outubro 2023  

 

O custo do botijão de gás 

É interessante conhecer também a forma como o preço do botijão mais popular de GLP, ou seja, o P13 (13 Kg) é formado. Existe uma variação grande dependendo da Unidade da Federação por conta da carga tributária (que é basicamente ICMS, já que o produto é isento de CIDE e PIS/COFINS), da concorrência que leva a margens maiores ou menores e do custo de distribuição. A Figura 1, que foi desenvolvida pelo Sindigás, mostra a evolução destes componentes e do preço final entre outubro de 2022 e setembro de 2023, a título de comparação. 

A evolução de componentes e do preço final entre outubro de 2022 e setembro de 2023

Figura 1 – Fonte Sindigas, 2023 

A Figura 1 mostra que em 12 meses, o preço do botijão para o consumidor final caiu 7,6%, muito por conta da redução dos valores de produção, já que os impostos aumentam substancialmente, assim como a Margem Bruta da Revenda + Custos que cresceu em proporções menores. 

 

O custo do Gás Natural 

O Gás Natural tem o seu preço composto conforme a Figura 2, formatada pela EPE – Empresa de Pesquisa Energética. O custo do produto em si corresponde a apenas 46% do preço final ao consumidor. Dos demais custos envolvidos, a tributação é o mais alto, correspondendo a 24%, sendo que PIS e COFINS perfazem 9,25% e o restante para o pagamento de ICMS, esta variável para cada Unidade da Federação. 

O Gás Natural tem o seu preço composto.

Figura 2 – Fonte EPE, 2023 

 

A Matriz Energética do Domicílio Brasileiro 

O Gráfico 4, dá a dimensão da Matriz Energética Residencial Brasileira em 2023 (Ano Base 2022). Esta matriz é construída com base nos dados disponibilizados pela EPE – Empresa de Pesquisa Energética, vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME), além de projeções trazidas pelo Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE), também desenvolvido pela EPE. 

É possível verificar a expansão da eletricidade nesta matriz, a tendência de estabilização do uso de GLP com previsão de recuperação até 2031, a queda do uso de lenha, que ainda pode ser considerado alto e a ainda baixa participação do gás natural, fortemente influenciado pela alta necessidade de recursos para a implantação de redes urbanas. 

 

Matriz Energética Residencial Brasileira

Projeções até 2031

Matriz Energética Residencial Brasileira

Gráfico 4:  Fonte: Balanço Energético Nacional (BEN) 2023 – EPE e  Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2031 – EPE 

 

O crescimento da eletricidade na matriz residencial é reforçado quando se observa apenas as fontes de energia para cozinhar, conforme o Gráfico 5, construído com base em dados do Atlas de Eficiência Energética Brasil 2022 da EPE. 

 

Evolução do percentual de domicílios que cozinham alimentos por fonte em relação ao total de domicílios nacionais 

Evolução do percentual de domicílios que cozinham alimentos por fonte em relação ao total de domicílios nacionais

Gráfico 5 – Fonte: Atlas de Eficiência Energética Brasil 2022 – EPE 

 

O GLP é o combustível com maior presença nos domicílios brasileiros, porém é possível verificar também o aumento do uso da eletricidade, principalmente em função do aumento de eletrodomésticos tais como: fornos elétricos, fritadeiras, air fryers, etc. 

Para que a matriz energética da casa brasileira continue a contar com a participação efetiva e crescente do GLP, especialmente no uso para o cozimento de alimentos, é preciso identificar com rigor onde estão os domicílios e de que forma estes podem ser melhor atendidos. 

Da mesma forma, para ampliar o market share do Gás Natural no domicílio brasileiro, é preciso conhecer detalhadamente a demanda, conhecendo onde estão os consumidores, seus gastos, sua capacidade econômica, para assim poder definir as prioridades na distribuição, para então partir para o projeto e implantação das redes necessárias. 

O georreferenciamento aliado à Inteligência Artificial é uma das alternativas para que as empresas se estruturem de maneira estratégica para distribuir, sejam os botijões de gás GLP, seja o Gás Natural em suas canalizações, de forma coerente, rentável e rápida.  

A Cognatis, com base em seus bancos de dados, em especial aquele com conteúdo geomercadológico e censitário, o GEOPop®, e com sua reconhecida capacidade no uso de Inteligência Artificial, atende empresas no segmento de distribuição de gás, viabilizando soluções de interface entre estas, seus credenciados para vendas regionais e o consumidor final. No caso do GLP, a Cognatis desenvolve soluções que permitem ao consumidor, utilizando um APP, encontrar quais as revendas que melhor possam lhe atender. Do lado da oferta, para a distribuidora fica um controle detalhado de como seu produto é comercializado e para a revenda a possibilidade de garantir seus territórios de venda, sem canibalização. 

No caso do Gás Natural, os bancos de dados georreferenciados podem apoiar as distribuidoras, na definição das estratégias de criação e gestão das redes de distribuição. 

Estas soluções permitem otimizar recursos financeiros que concedem à empresa rentabilidade e ao consumidor final satisfação e agilidade com a compra do produto. 

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